Por Lourdes de la Rosa Onuchic (UNESP)
Gente do mundo todo está trabalhando na
reestruturação da educação matemática. Muitos esforços estão sendo
feitos para tornar o “ensino” da matemática mais eficiente. É preciso
que muito mais gente saiba matemática e a saiba bem.. Com as reformas
pretende-se uma matemática para todos. Como conseguir isso? Que
matemática deve ser ensinada? Não será uma utopia querer mudar de um
chavão: detesto matemática para outro: adoro matemática? Há, para
muitos, uma grande preocupação com isso. Será que a matemática que se
quer para todos não será uma matemática para ninguém, como disse Al
Cuoco, em 1995, na revista Mathematics Teacher, volume 88, no.3, p.186.
O NCTM ( National Council of Teachers of Mathematics), dos Estados
Unidos, em busca de uma reforma, publicou três conjuntos de padrões:
• Curriculum and Evaluation Standards for School Mathematics, em 1989;
• Professional Standards for Teaching Mathematics, em 1991;
• Assessment Standards for School Mathematics, em 1995,
sempre lembrando que o propósito da educação é preparar os estudantes a
não só fazer disso um meio de vida mas, sim, poder, de fato, construir
uma vida ( Mathematics making a living, making a life).
A partir de 1995 começou, nos Estados Unidos, uma verdadeira “guerra
matemática”. Alguns matemáticos e um certo número de pais de alunos
iniciaram uma série de críticas à reforma. Essa luta continuou por certo
tempo e, em 1999, com matéria paga, o “ Washington Post” publicou uma
página inteira pronunciando-se contra a reforma pretendida. O NCTM,
então, após uma década de aplicação das idéias defendidas pelos
Standards, trabalhou sobre as críticas e sugestões recebidas e produziu a
publicação “Principles and Standards for School Mathematics”, que foi
lançada em abril de 2000, no Encontro Anual do NCTM em Chicago. Esta
publicação refina e elabora as mensagens detalhadas nos Standards
originais mas conserva intacta sua visão básica.
No Brasil, apoiados nas idéias do NCTM, temos os PCN (Parâmetros
Curriculares Nacionais):
• PCN – Matemática - 1º e 2º ciclos – 1ª a 4ª séries –1997
• PCN – Matemática – 3º e 4º ciclos – 5ª a 8ª séries – 1998
• PCN – Ensino Médio – 1999.
Conversando com um médico, pai que acompanha de perto o estudo de seus
três filhos, junto com sua esposa, em uma conversa comigo perguntou: A
Matemática não muda nas escolas? Meus filhos freqüentam uma boa escola e
, a mim, me parece que a matemática que eles estudam é a mesma que eu
estudei. Falamos sobre educação em geral e em educação matemática em
particular. Mostrei-lhe as publicações do NCTM. Gostou das coisas novas
que via e perguntou: E no Brasil, já há alguma coisa desse tipo? Falei
sobre e mostrei-lhe os PCN. Surpreso, ele me disse:- Nunca ouvi falar
sobre isso! Nas reuniões na escola nunca ouvimos falar sobre isso!
Disse-lhe que, nos encontros, palestras e cursos que tenho dado,
pergunto aos professores se eles conhecem os PCN, se já os leram, o que
pensam dessa reforma que se pretende, ... .Poucos são os que os
conhecem. Poucas são as escolas que colocam esses documentos nas mãos
dos professores. Os que os conhecem, às vezes, nem sabem como usá–los.
Alguns professores não conseguem perceber os seus objetivos e
assustam-se com a perspectiva de ter que mudar sua forma de trabalho.
Mostrei a ele que a Revista “Nova Escola”, em edição especial,
apresentou dois volumes chamados “Parâmetros Curriculares Nacionais”-
Fáceis de entender, um de 1ª a 4ª séries e outro de 5ª a 8ª séries.
Parece que se fez necessário apresentar, aos professores,
esclarecimentos sobre a mudança pretendida.
De minha vivência com professores em exercício e com alunos da Graduação
e Pós-Graduação em matemática, tenho constatado que, salvo boas
exceções, o “ensino” que se “oferece” aos alunos em “sala de aula” é,
ainda, aquele tradicional, com o professor falando, o aluno escutando,
tomando notas, ... e repetindo-se, nas provas de avaliação, aplicadas
sempre do mesmo modo, aquilo feito em sala de aula com algumas pequenas
mudanças.
Neste século XX houve várias reformas no ensino de matemática: o ensino
de matemática por repetição; o ensino de matemática com compreensão; a
Matemática Moderna; a Resolução de Poblemas e, agora, várias linhas
alternativas de trabalho: modelagem, jogos, a história da matemática, a
etnomatemática , o uso da tecnologia e, para mim, o ensino de matemática
através da resolução de problemas.
Os objetivos gerais da área de matemática, nos PCN, buscam contemplar
todas as linhas que devem ser trabalhadas no ensino de matemática,
embora com um destaque à resolução de problemas. Esses objetivos têm
como propósito fazer com que os alunos possam pensar matematicamente,
levantar idéias matemáticas, estabelecer relações entre elas, saber se
comunicar ao falar sobre elas, desenvolver formas de raciocínio,
estabelecer conexões entre temas matemáticos e desenvolver a capacidade
de resolver problemas, explorá-los, generalizá-los e até propor novos
problemas a partir deles.
De acordo com os PCN, entre os obstáculos que o Brasil tem enfrentado,
em relação ao ensino de matemática, encontram-se a falta de uma formação
profissional qualificada, as restrições ligadas às condições de
trabalho, a ausência de políticas educacionais efetivas e interpretações
equivocadas de concepções pedagógicas.
A metodologia de ‘Ensino de Matemática através da Resolução de
Problemas” constitui-se num caminho para se ensinar matemática e não
apenas para se ensinar a resolver problemas. Nela, o problema é um ponto
de partida e os professores, através da resolução do problema, devem
fazer conexões entre os diferentes ramos da matemática, gerando novos
conceitos e novos conteúdos. Numa sala de aula onde o trabalho é feito
com a abordagem de ensino de matemática através da resolução de
problemas, busca-se usar tudo o que havia de bom nas reformas
anteriores: repetição, compreensão, o uso da linguagem matemática da
teoria dos conjuntos, resolver problemas e, às vezes, até a forma de
ensino tradicional.
Os Standards 2000 - Principles and Standards, enunciando seis Princípios
recomendados para o trabalho com a matemática escolar: Eqüidade,
Currículo, Ensino, Aprendizagem, Avaliação e Tecnologia, apresentam
cinco Padrões de Conteúdo: Números e Operações; Álgebra; Geometria;
Medida; e Análise de Dados e Probabilidade, que explicitamente descrevem
o conteúdo que os estudantes devem aprender. Os outros cinco padrões
são Padrões de Processo: Resolução de Problemas; Raciocínio e Prova;
Comunicação; Conexões; e Representação, que realçam os caminhos para se
adquirir e usar o conhecimento de conteúdo.
Como enfrentar a mudança preconizada pelos PCN? Quantos professores
estão preparados para utilizar suas recomendações e levar aos seus
alunos, em suas salas de aula, um conteúdo que pode se encaixar dentro
de determinados padrões de conteúdo, suportados por padrões de
procedimentos bem estruturados?
Não devemos desanimar. Na realidade, nossa educação está ganhando pontos
preciosos na sua luta. Devemos conscientizar nossos professores que
eles são a peça mais importante nessa batalha. São eles que trabalham
diretamente com o aluno que é o produto final no processo da educação.
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